quinta-feira, 12 de julho de 2012

“Terminei a corrida, guardei a fé”




Raquel Araujo






O último adeus a Dom Eugenio aconteceu na tarde desta quarta-feira, 11 de julho, mas o legado desse Cardeal tão querido não só no Rio de Janeiro como em todo o Brasil ficará para sempre na memória dos fiéis. De casa, assistindo à cerimônia ao vivo pelos veículos oficiais da Arquidiocese, ou presencialmente na Igreja mãe da cidade - que o próprio Dom Eugenio ajudou a concluir - fiéis, amigos e familiares puderam se despedir daquele que, durante todo o seu ministério, foi fiel ao Papa e se doou integralmente aos mais necessitados.

Dom Eugenio, com toda a sua obra pela Igreja, é consolo e incentivo para a missão cristã e, ao mesmo tempo, suas iniciativas revelaram características importantes desse extremado pastor. O Cardeal, que cumpriu o seu papel de aproximar o homem da fé e de levar a esperança aos que precisavam, vai ao encontro ao Pai e, como disse em seu testamento: do Céu buscará retribuir tudo o que recebeu. Mas disso, não há duvidas: Dom Eugenio olhará e intercederá por todos, pois ele foi um instrumento de Deus que sempre se preocupou com a evangelização.

Para o irmão mais novo de Dom Eugenio, Otto Santana, o Cardeal será lembrado pela sua dedicação e amor sem limites ao povo de Deus. Tal atenção aos fiéis está presente nitidamente em seu lema: "Impendam et Superimpendar" (2Cor 12,15). 


— “De muito boa vontade darei o que é meu, e me darei a mim mesmo pelas vossas almas, ainda que, amando-vos mais, seja menos amado por vós”: acho que é esse o grande legado que ele nos deixa, dentro da sua missão, e a isso ele se dedicou sem limite. Por toda a sua vida, a sua principal preocupação foi a Igreja, foi a presença junto aos pobres, afirmou emocionado.

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Cardeal Dom Raymundo Damasceno, também se recorda com carinho da pessoa de Dom Eugenio. Segundo ele, as iniciativas que o Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro tomou durante os trinta anos de seu episcopado dão frutos até os dias de hoje:

— Ele sempre teve um episcopado muito criativo, com iniciativas que perduram até hoje, como por exemplo, o movimento de educação de base. (...) Ele foi um dos iniciadores da Campanha da Fraternidade, que promove a reflexão de temas muito importantes para o país inteiro, e recebeu na Arquidiocese do Rio de Janeiro a visita do Beato João Paulo II. Como o apóstolo Paulo, Dom Eugenio “combateu o bom combate”, conservou a fé e certamente vai receber da misericórdia de Deus o prêmio daqueles que o servem e o amam, afirmou Dom Damasceno. 


Antes de vir para a Arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Eugenio passou pela Arquidiocese de São Salvador da Bahia, por onde também, ao longo de sete anos, pôde exercer com brilhantismo o seu ministério. O atual Arcebispo de Salvador, Dom Murilo Krieger, ressaltou algumas obras de Dom Eugenio e lembrou a firmeza e a objetividade do Cardeal:

— Hoje me beneficio de iniciativas dele, como, por exemplo, o centro de encontro de formação de leigos, que ele adquiriu, a casa do clero, congregações religiosas, que ele levou para Salvador e até hoje estão atuando. E, sobretudo, Dom Eugenio realizou uma abertura da diocese de Salvador para a periferia. Por isso, hoje venho aqui em nome dos baianos, dos soteropolitanos, agradecer ao Senhor pelo dom, pela presença de Dom Eugenio em nossa Arquidiocese e pela ação dele no Brasil, disse. 


Já na Cidade Maravilhosa, Dom Eugenio ajudou a fundar inúmeras pastorais, entre elas a Pastoral do Menor, que à Luz do Evangelho, trabalha na promoção e na defesa da vida da criança e do adolescente menos favorecido. Conselheira desta Pastoral, Maria Christina Sá trabalhou lado a lado com o Cardeal em diversos momentos. Ao falar de Dom Eugenio, ela se recordou, orgulhosa, de como a Pastoral do Menor começou a dar os primeiros passos:

— No Rio de Janeiro, Dom Eugenio empenhou-se até a alma. Ele criou a Pastoral do Menor. Aqui no Rio existiam muitos meninos que moravam na Fundição Progresso, em cima do lixo. Era época do Natal e Dom Eugenio arranjou um lugar para eles ficarem, mas após o Natal eles não queriam mais voltar para rua. Então, ele organizou a primeira casa de acolhida e começou, com a prática de convivência desses garotos, a construir a Pastoral do Menor, que hoje atinge a mais de três mil crianças, recordou.

O Arcebispo de São Paulo, Cardeal Dom Dom Odilo Scherer, lembrou também da fidelidade de Dom Eugenio, sempre engajado na unidade da Igreja, preocupado com a formação do clero e também voltado para a dignidade humana. Para Dom Odilo, Dom Eugenio foi um grande líder.

— Dom Eugenio sempre teve a grande preocupação de manifestar a fidelidade à Igreja, ao Papa. Por outro lado, também tinha preocupação com a formação do clero. Ele também foi alguém socialmente muito ativo: já em Natal, ajudava as pessoas no interior do nordeste. Ele se preocupou com obras sociais e também se preocupou com a dignidade humana. Dom Eugenio foi um bispo que exerceu por muitos anos o seu episcopado e foi um grande líder da igreja católica no Brasil, disse. 


De fato, para Dom Eugenio, o que mais importava era ser fiel a Cristo e, por isso, era sua testemunha. A sua vida de oração, os seus sentimentos, os seus pensamentos, sua conduta, seus afazeres tinham uma meta: a causa do Reino. E essa é uma marca que transcende a existência do Cardeal e se mistura à missão da própria Arquidiocese do Rio. Por isso ele será sempre lembrado com carinho por tantos fiéis, não só do Rio de Janeiro como de todo o Brasil. Como o próprio Dom Eugenio disse em uma entrevista à Rádio Catedral, “somente os que creem recebem a graça transformadora, que é capaz de converter a dor na esperança e substitui por uma presença o vazio deixado pelos que o antecederam na casa do Pai”.

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