quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

"A África é mártir", disse Francisco aos jornalistas

Em entrevista concedida durante voo, papa fala sobre exploração que afeta países africanos
O papa Francisco encerrou, na segunda-feira, dia 30 de novembro, as atividades de sua 11ª viagem apostólica, ocasião na qual visitou o Quênia, Uganda e a República Centro-Africana. No voo de retorno a Roma, o pontífice falou aos jornalistas sobre suas impressões a respeito da realidade africana. “A África é mártir”, disse o papa, ao recordar a exploração dos recursos naturais e das pessoas nascidas no continente. Francisco também falou aos jornalistas no avião sobre a Conferência do Clima e do fundamentalismo religioso.
Perguntado sobre o que sentiu escutando as histórias de exclusão por causa da ganância e da corrupção que as famílias pobres da favela de Kangemi e os jovens no Quênia haviam contato, o papa sustentou que 80% da riqueza do mundo está nas mãos de 17% da população e que o mundo possui um sistema econômico que tem em seu centro o  “deus dinheiro”. 
“Eu senti muita dor”, disse o papa, que lembrou da visita ao hospital pediátrico, o único de Bangui e de todo o país. “Na terapia intensiva não tem instrumentos para o oxigênio. A doutora me disse: ‘Quase todos as crianças vão morrer porque tem malária e estão desnutridas...’ O que pensa essa porcentagem que tem em suas mãos os 80% da riqueza do mundo?”, indagou.
Francisco foi interpelado sobre o censo comum em torno do continente africano que sustenta a ideia de que os países são dilacerados por guerras e cheios de destruição. “A África é uma vítima. Sempre foi explorada por outras potências. Da África chegaram à América as pessoas vendidas como escravos. Há potências que só querem estar com as grandes riquezas da África”, denunciou. O papa ainda afirmou que “os que dizem que da África vem todos os desastres e todas as guerras talvez não compreendam o dano que fazem à humanidade certas formas de desenvolvimento. Por isso amo a África, porque tem sido vítima de outras potências”, declarou.
O que se pôde perceber nas falas do papa é que o que mais o chamou atenção foi o “grande senso de hospitalidade”, quando o perguntaram sobre o momento mais memorável. Francisco destacou elementos da identidade de cada nação. “Quênia é mais moderno, mais desenvolvido. Uganda tem a identidade dos mártires, a valentia de dar a vida por um ideal. E a República Centro-Africana é o desejo de paz, a reconciliação e o perdão”, contou.

Islamismo

Uma jornalista americana perguntou ao papa Francisco sobre o islã e os ensinamentos de Maomé. O pontífice destacou o diálogo e os diversos valores que possuem. “Não se pode manchar uma religião porque há alguns grupos – ou muitos grupos – em um momento determinado da história, que são fundamentalistas”, salientou, recordando ser verdade que na história sempre aconteceram “guerras de religião”. Ao citar exemplos como a guerra dos Trinta Anos, o papa não eximiu a Igreja Católica da promoção deste tipo de evento negativo na história. “Também nós devemos pedir perdão pelo extremismo fundamentalista das guerras de religião”, disse.

COP 21

A Conferência Mundial pelo Clima, que acontece em Paris, na França, também foi um tema em questão durante atendimento aos jornalistas no voo de volta à Sé Romana. Francisco afirmou que “É agora ou nunca”. “A cada ano os problemas são mais graves. Estamos à beira do suicídio, por não dizer uma palavra mais forte”, alertou.
O papa manifestou-se em tom de otimismo. “E estou certo de que quase todos que estão em Paris na COP 21 tem esta consciência e querem fazer algo. Eu confio que estas pessoas vão fazer algo. Estou seguro de que tem boa vontade. Espero e rezo por isso”, sinalizou.

Visitas

Seu primeiro ponto de parada na África foi a cidade de Nairóbi, no Quênia. Ali o papa pôde conhecer as realidades de um país que sofre uma grande miséria, onde famílias, de acordo com o arcebispo de Nairóbi, cardeal John Njue, “se dividem sob a forte pressão do materialismo e da perda dos valores africanos”. No Quênia, o papa também se reuniu com vários líderes de comunidades cristãs e de outas religiões. 
A segunda etapa da viagem apostólica aconteceu em Uganda, onde Francisco recordou os mártires africanos. Foi celebrada uma missa em memória dos mártires de Uganda no Santuário Católico de Namugongo. 
Antes da celebração, o papa visitou o Santuário Anglicano dos Mártires construído no lugar da morte dos 25 mártires de Uganda, católicos e anglicanos (1884-1887), cujas relíquias são veneradas em uma Capela vizinha.
O Santuário Nacional Católico de Namugongo surge no grande parque natural. Sob o altar-mor encontra-se o lugar onde São Carlos Lwanga foi queimado vivo, em 3 de junho de 1886, junto com seus Companheiros mártires, durante as perseguições anticristãs em Uganda.
Na República Centro-Africana foi finalizada a jornada de Francisco no continente africano. Ele encontrou-se com jovens e com cristãos evangélicos e visitou uma mesquita e o hospital pediátrico, na capital Bangui.
Naquela cidade, o papa abriu a Porta Santa da catedral de Nossa Senhora da Conceição, no dia 29, iniciando as atividades do Jubileu Extraordinário da Misericórdia no continente (foto à direita). A República Centro-Africana está inserida em uma realidade de guerra, ódio, incompreensão e falta de paz. 
A última atividade do papa foi a celebração eucarística no estádio Barthélémy Boganda de Bangui, nesta segunda-feira, dia 30.
Com informações da Rádio Vaticano

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