segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Calotes e desvio de dízimos: revista revela detalhes da crise da Igreja Mundial, de Valdemiro Santiago. Entenda


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A crise administrativa por que passa a Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD) foi tema de uma reportagem extensa que denunciou a suposta existência de traições, desvios de dízimos e ofertas e má gestão da denominação neopentecostal brasileira que mais cresceu nos últimos anos.
A IstoÉ publicou, como tema de capa da edição do último final de semana, uma matéria que ouviu líderes da igreja que denunciam a existência de quadrilhas entre os pastores e bispos, que atuariam no sentido de desviar a arrecadação da IMPD: “Cerca de 30% dos recursos que arrecadamos são desviados. Por mês, R$ 30 milhões saem pelo ralo”, afirmou um alto dirigente da Mundial no Rio de Janeiro, que preferiu não se identificar.
A perda dos horários na Band e Rede 21 para a Igreja Universal do Reino de Deus aconteceu devido ao atraso de R$ 21 milhões no pagamento ao grupo proprietário das emissoras. Deste valor, R$ 8 milhões eram referentes a setembro, e os outros R$ 13, a outubro. “Pegaram a gente em um momento de fraqueza. Gastamos R$ 300 milhões com templos ultimamente e vivemos um tempo de estruturação e amadurecimento”, lamentou o líder que conversou com a reportagem da revista. “Estamos pagando muitas prestações, os valores de aluguéis aumentaram, temos muitas obras em andamento e acabou atrasando alguma coisa. Aí, deixa de pagar um mês e vira um problema para a mensalidade seguinte”, complementou o deputado federal José Olímpio (PP-SP), que ocupa o posto de presidente da Mundial.
A descoberta de que quadrilhas formadas por pastores e bispos estavam drenando a capacidade da denominação a partir dos desvios dos valores arrecadados levou o apóstolo a caçar e excluir alguns dos que foram descobertos.
“Há dois anos e meio, por exemplo, o Valdemiro descobriu uma dessas quadrilhas no ABC paulista liderada pelo bispo e por seus auxiliares e os expulsou”, afirmou a fonte.
O bispo Josivaldo Batista, braço direito de Valdemiro e considerado número 2 na hierarquia da Mundial, foi recentemente transferido para Lisboa, e substituído na função de administrar as finanças da igreja. O escolhido para ocupar a função, bispo Jorge Pinheiro, é marido da irmã da bispa Franciléia, esposa de Valdemiro.
Segundo declarações de um líder da cúpula paulista da igreja, as investigações de Valdemiro mostraram que havia um grupo de pastores e bispos próximos a Josivaldo Batista que estaria prejudicando a denominação: “Ele se deu conta de que o problema advinha da concentração de poder em torno dessa turma. Era gente pedindo avião para fazer não sei o quê, para ter programa na televisão não sei onde, para abrir igreja em um grotão aí…”, afirmou, reclamando da forma como o apóstolo administrou a Mundial até aqui: “Ele se cercou de um estafe pequeno que blindava o acesso a ele. E, assim, passou a ouvir pouco outras opiniões. Precisa amadurecer”.
As dívidas não abalaram apenas os projetos midiáticos de Valdemiro. A Cidade Mundial, inaugurada com alarde em Guarulhos em dezembro de 2011, está fechada desde fevereiro de 2012 devido a inadequações do local para o uso como templo. As prestações de compra do prédio custam R$ 5 milhões mensais, e a falta de celebrações no local impede que o próprio templo arrecade dízimos e ofertas para ajudar a pagar o investimento. De acordo com a IstoÉ, a decisão de Valdemiro foi se desfazer do local, assim como a Cidade Mundial do Paraná.
Dênis Munhoz, advogado e vice-presidente da Mundial, afirma que nos últimos tempos a igreja vem passando por uma reestruturação administrativa, e que os casos de atrasos nos aluguéis vem caindo: “Esses problemas diminuíram 70% nos últimos tempos. Se existe esse problema, a igreja sempre tomou as providências rapidamente”.
“Muitas vezes, é melhor dar um passo atrás para, depois, dar um maior à frente. Valdemiro me disse que estava, inclusive, vendendo a sua fazenda no Mato Grosso”, afirmou o alto dirigente da Mundial no Rio de Janeiro. A fazenda, inclusive, tem sido objeto de investigações das autoridades, que desconfiam de desvio de ofertas e dízimos pelo próprio apóstolo para adquirir a propriedade.
Veja um infográfico com a trajetória de Valdemiro Santiago no neopentecostalismo:
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Leia alguns trechos da reportagem que foi matéria de capa da Isto É:

À espera de um milagre

Quadrilhas de pastores ladrões, dívidas milionárias com as tevês, administração amadora e investimentos equivocados na construção de grandiosos templos. O que está por trás da crise financeira da Mundial, uma das mais poderosas igrejas evangélicas do País

Chorar durante a pregação é um dos traços mais marcantes da performance de Valdemiro Santiago de Oliveira, o todo-poderoso da Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD), no púlpito. Criticado por abusar dessa prática, o autointitulado apóstolo tem motivos mais terrenos para derramar suas lágrimas atualmente.
O império neopentecostal construído por esse mineiro de 49 anos, nascido em Cisneiros, distrito de Palma, a 400 quilômetros de Belo Horizonte, vive a maior crise da sua história. O mais recente indício de que a IMPD está fragilizada foi a decisão do Grupo Bandeirantes de encerrar, na semana passada, a parceria que mantinha com Valdemiro, que alugava quase a totalidade da grade da programação do Canal 21 e ocupava cerca de quatro horas diárias nas madrugadas da Band. Motivo do fim do acordo: atrasos no pagamento.
Valdemiro até que tentou impedir o fato. De microfone em punho, o comedor de angu que cuidava de marrecos na roça antes de se converter evangélico usou toda a sua empatia com o povão. No início do mês, pôs o rosto no vídeo, caprichou na voz chorosa e iniciou uma campanha conclamando seus fiéis a ajudá-lo a arrecadar R$ 21 milhões para honrar compromissos com o aluguel de horários na mídia.
A Mundial já devia R$ 8 milhões ao Grupo Bandeirantes referentes a setembro. No fim deste mês, outro boleto a vencer: R$ 13 milhões. A emissora paulista não confirma oficialmente, mas a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, concorrente direta da Mundial, teria entrado na disputa por esses horários e conseguido vencer a briga sobre a maior concorrente na disputa por almas. “Pegaram a gente em um momento de fraqueza”, diz uma liderança da IMPD. “Gastamos R$ 300 milhões com templos ultimamente e vivemos um tempo de estruturação e amadurecimento.”
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Valdemiro Santiago criou um império religioso, viu seu rebanho se
expandir por cerca de cinco mil templos e, agora, tenta colocar a
casa em ordem ao ver sua igreja sangrar em milhões de reais

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PODER
Diante da crise, Valdemiro nomeou Jorge Pinheiro (acima), marido da irmã
de sua esposa, para gerir o setor financeiro e administrativo da IMPD no
lugar do bispo Josivaldo (abaixo), transferido para Lisboa

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“Cerca de 30% dos recursos que arrecadamos são desviados
por bispos e pastores. Por mês, R$ 30 milhões saem pelo ralo”,
afirma um alto dirigente da IMPD do Rio de Janeiro

Quisera Valdemiro Santiago, porém, que seus problemas fossem revezes restritos apenas ao campo administrativo da sua igreja. Em São Paulo, o líder evangélico é alvo de uma investigação do Ministério Público estadual e da Polícia Civil. Desde janeiro de 2013, diligências feitas pelo Grupo Especial de Delitos Econômicos (Gedec) e pela Divisão de Investigações sobre Crimes contra a Fazenda, da Polícia Civil, apuram um suposto crime de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, direitos ou valores.
O dono da Mundial virou alvo das autoridades quando elas descobriram que a Fazenda Santo Antonio do Itiquira, localizada em Santo Antônio do Leverger (MT), um conglomerado de 10.174 hectares de terras ocupado por milhares de cabeças de gado, foi comprado por R$ 29 milhões à vista pela empresa W. S. Music, cujos representantes são o apóstolo e sua mulher, a bispa Franciléia. O caso, que pode configurar uso do dinheiro de fiéis para enriquecimento pessoal, corre em sigilo.
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Não são poucos os templos ocupados pela IMPD que têm problemas com aluguel atrasado ou ações de despejo em curso na Justiça. Em Pirituba, por exemplo, bairro da capital paulista, o proprietário impetrou na justiça uma ação de despejo contra a igreja por não receber o aluguel de seu imóvel desde julho.
E cobra, ainda, o pagamento de R$ 34.538,64. De acordo com um de seus representantes legais, essa é terceira vez que a justiça é acionada desde 2010, quando o local passou a ser ocupado pela Mundial. “Não entendo a falta de organização da igreja. Não acredito que ela não tenha caixa para pagar o aluguel”, diz ele, que prefere não se identificar. “Esses problemas diminuíram 70% nos últimos tempos”, garante Dênis Munhoz, advogado da Mundial.
À frente também do cargo de vice-presidente da Mundial, Munhoz refuta a ideia de a denominação viver uma crise, argumentando que a IMPD é a evangélica que mais cresce no Brasil. Sobre as quadrilhas de pastores, afirma: “Se existe esse problema, a igreja sempre tomou as providências rapidamente.”
Prefere, no entanto, não comentar a perda dos espaços no Canal 21 e na Band. Quem falou sobre o assunto foi o presidente da IMPD, o deputado federal José Olímpio (PP-SP). “Estamos pagando muitas prestações, os valores de aluguéis aumentaram, temos muitas obras em andamento e acabou atrasando alguma coisa. Aí, deixa de pagar um mês e vira um problema para a mensalidade seguinte”, diz.
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Para se ver livre de mais problemas, Valdemiro, que, procurado por ISTOÉ, não se manifestou, entregou os horários que possuía na Rede TV! e na CNT. Deixou também de alugar espaço em dezenas de retransmissoras de diferentes estados e recuou no projeto de ocupar a programação de tevês da Argentina, Colômbia e do México.

“Muitas vezes, é melhor dar um passo atrás para, depois, dar um maior à frente”, diz o alto dirigente da Mundial do Rio. “Valdemiro me disse que estava, inclusive, vendendo a sua fazenda no Mato Grosso.” Essa informação não foi confirmada pelo presidente nem pelo vice-presidente da IMPD. Mas, na atual situação, receber R$ 33 milhões, valor estimado da Fazenda Santo Antonio do Itiquira, seria como um milagre para o líder evangélico. (Fontes: Gospel + e Revista Isto É)

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