sexta-feira, 27 de julho de 2012


Mensagem da Santa Sé para o Dia Mundial do Turismo 2012


Boletim da Santa Sé


Mensagem do Pontifício Conselho das Pastorais para os Migrantes e Itinerantes em ocasião do Dia Mundial do Turismo 2012

No dia 27 de setembro celebra-se a Jornada Mundial do Turismo, promovida anualmente pela Organização Mundial do Turismo (OMT). A Santa Sé aderiu a esta iniciativa desde a sua primeira edição, considerando-a uma oportunidade para dialogar com o mundo civil, oferecendo a sua colaboração concreta, baseada no Evangelho, e considerando-a também como uma ocasião de sensibilização de toda a Igreja para a importância que este setor reveste ao nível econômico, social e, particularmente, no contexto da nova evangelização.
Esta mensagem é publicada quando ainda ressoam os ecos do VII Congresso Mundial da Pastoral do Turismo, celebrado no passado mês de Abril em Cancún (México), por iniciativa do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes em colaboração com a Prelatura de Cancún-Chetumal e a Conferência Episcopal Mexicana. Os trabalhos e as conclusões daquele encontro iluminarão a nossa ação pastoral para os próximos anos.
Também nesta edição da Jornada Mundial assumimos como nosso o tema proposto pela OMT, "Turismo e sustentabilidade energética: propulsores do desenvolvimento sustentável", em sintonia com o presente "Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos", promulgado pelas Nações Unidas, com o objetivo de realçar "a necessidade de melhorar o acesso aos recursos e serviços energéticos para o desenvolvimento sustentável que sejam confiáveis, de custo razoável, economicamente viáveis, socialmente adaptáveis e ecologicamente racionais".1
O turismo cresceu a um ritmo importante nas últimas décadas. Segundo as estatísticas da Organização Mundial do Turismo, prevê-se que durante o corrente ano se chegue a um bilhão de chegadas de turistas internacionais e que, no ano 2030, serão dois bilhões. A estes devem ser acrescentados os números ainda mais elevados que representam o turismo local. Tal crescimento, que tem certamente efeitos positivos, pode causar um forte impacto ambiental, devido, entre outros fatores, ao consumo desmesurado dos recursos energéticos, ao aumento de agentes poluentes e à produção de resíduos.
O turismo tem um papel importante na consecução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, entre os quais o de "garantir a sustentabilidade ambiental" (objetivo 7), e o dever de fazer tudo o que está em suas mãos para que eles sejam alcançados.2
Por isso, ele deve adaptar-se às condições da mudança climática, reduzindo as suas emissões de gases de efeito estufa, que actualmente representam 5% do total. Todavia, o turismo não só contribui para o aquecimento global como também é vítima do mesmo.
O conceito de "desenvolvimento sustentável" está já implementado na nossa sociedade e o sector do turismo não pode nem deve permanecer à margem. Quando falamos de "turismo sustentável" não nos referimos a uma modalidade entre outras, como poderia ser o turismo cultural, o de praia ou o de aventura. Toda a forma e expressão de turismo devem ser necessariamente sustentáveis, e não pode ser doutra forma.
Neste percurso, deve ter-se em devida conta os problemas energéticos. É um pressuposto errado pensar que "existe uma quantidade ilimitada de energia e de recursos a serem utilizados, que a sua regeneração seja possível de imediato e que os efeitos negativos das manipulações da ordem natural podem ser facilmente absorvidos".3
É verdade, assim como refere o Secretário-Geral da OMT, que "o turismo está na vanguarda de algumas das iniciativas sobre a sustentabilidade energética mais inovadora do mundo".4
Não obstante, estamos de igual modo convicto do muito trabalho ainda a realizar. Também, neste âmbito, o Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes deseja oferecer o seu contributo, partindo da convicção que "a Igreja sente o seu peso de responsabilidade pela criação e deve fazer valer esta responsabilidade também em público".5
Não nos diz respeito propor soluções técnicas concretas, mas mostrar que o desenvolvimento não pode reduzir-se a simples parâmetros técnicos, políticos ou econômicos. Desejamos acompanhar este desenvolvimento com algumas adequadas orientações éticas, que sublinham o fato de que todo o crescimento deve estar sempre ao serviço do ser humano e do bem comum. Na verdade, na Mensagem enviada ao referido Congresso de Cancún, o Santo Padre frisa a importância de "iluminar este fenômeno com a doutrina social da Igreja, promovendo uma cultura do turismo ético e responsável tal que chegue a ser respeitador da dignidade das pessoas e dos povos, acessível a todos, justo, sustentável e ecológico".6
Não podemos separar o tema da ecologia ambiental da preocupação por uma adequada ecologia humana, entendida como fundamental para o desenvolvimento integral do ser humano. Do mesmo modo, não podemos separar a nossa visão do homem e da natureza do vínculo que os une com o Criador. Deus confiou ao ser humano à boa gestão da criação.
É importante, em primeiro lugar, um grande esforço educativo, a fim de promover “Uma real mudança de mentalidade que nos induza a adotar novos estilos de vida".7Esta conversão da mente e do coração "deve permitir que se chegue rapidamente a uma arte de viver juntos que respeite a aliança entre o homem e a natureza".8
É justo reconhecer que os nossos hábitos quotidianos estão a mudar e que existe uma maior sensibilidade ecológica. Todavia, também é igualmente verdade que se corre facilmente o risco de esquecer estas motivações durante o período de férias, procurando determinadas comodidades que consideramos ter direito, nem sempre refletindo sobre as suas consequências.
É necessário cultivar a ética da responsabilidade e da prudência, interrogando-nos sobre o impacto e sobre as consequências das nossas ações. A este propósito, o Santo Padre afirma que "as modalidades com que o homem trata o ambiente influem sobre as modalidades com que se trata a si mesmo, e vice-versa. Isto chama a sociedade atual a uma séria revisão do seu estilo de vida que, em muitas partes do mundo, pende para o hedonismo e o consumismo, sem olhar aos danos que daí derivam". 9
Sobre este ponto, será importante encorajar quer os empresários quer os turistas a fim de que tenham em conta as repercussões das suas decisões e comportamentos. Do mesmo modo, é crucial "favorecer comportamentos caracterizados pela sobriedade, diminuindo as próprias necessidades de energia e melhorando as condições da sua utilização".10
Estas ideias de fundo devem traduzir-se necessariamente em ações concretas. Portanto, e com o objetivo de tornar sustentáveis os destinos turísticos, devem-se promover e apoiar todas as iniciativas que sejam energeticamente eficientes e com o menor impacto ambiental possível, que levem a usar as energias renováveis, a promover a conservações dos recursos e a evitar a contaminação. Neste sentido, é fundamental que, tanto as estruturas turísticas eclesiais como as férias que a Igreja promove, sejam caracterizadas, entre outras coisas, pelo seu respeito para com o ambiente.
Todos os sectores envolvidos (empresas, comunidades locais, governos e turistas) devem estar conscientes das respectivas responsabilidades para chegarmos a formas sustentáveis de turismo. É necessária a colaboração entre todas as partes interessadas.
A Doutrina Social da Igreja recorda-nos que "a tutela do ambiente constitui um desafio para toda a humanidade: trata-se do dever, comum e universal, de respeitar um bem coletivo".11
Um bem do qual o ser humano não é patrão, mas "administrador" (cf. Gn 1, 28), a quem Deus o confiou para que o governe adequadamente.
O Papa Bento XVI afirma que "a nova evangelização, para a qual todos estamos convocados, exige que tenhamos presente e aproveitemos as numerosas ocasiões que o fenômeno do turismo nos oferece para apresentar Cristo como resposta suprema às questões do homem atual".12
Convidamos, portanto, todos a promover e a utilizar o turismo de forma respeitosa e responsável, permitindo que ele desenvolva todas a suas potencialidades, na certeza de que, contemplando a beleza da natureza e dos povos, possamos chegar ao encontro com Deus.
Cidade do Vaticano, 16 de Julho de 2012

†  Antonio Maria Card. Vegliò
Presidente
†  Joseph Kalathiparambil
Secretário

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