quarta-feira, 18 de abril de 2012

É hora de censurarmos Michelangelo?




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'A cultura da Europa nasceu do encontro entre Jerusalém, Atenas e Roma, do encontro entre a fé no Deus de Israel', diz Bento XVI
A religião plasmou a cultura ocidental? Uma pergunta que em primeiro momento pode receber uma resposta negativa. Mas, se observamos com atenção o quanto tal pergunta é abrangente, é possível que, aos poucos, mudemos nossos conceitos.
Na era do Estado Laico, onde acontece a ruptura total entre Igreja e Estado, a religião é tida como questão privada e esquece-se, por exemplo que, a mesma é um fato social.
Os dias de guarda, instituídos pelo cristianismo, por exemplo, ainda não foram excluídos do calendário. Aliás, quem se atreveria a recusar um dia de descanso?

Dentro de uma realidade de Brasil, o que caracteriza a cidade do Rio de Janeiro é a figura do “Deus Cristão” de braços abertos, sendo assim, alguém se habilitaria a demolí-lo a fim de sustentar sua 'laicidade'?

O teólogo responde
Diante das respostas à essas perguntas, que com certeza serão negativas, como não responder à primeira pergunta do texto com um generoso “Sim”?  O Papa Bento XVI, que escreveu um livro intitulado "Europa e seu fundamentos de hoje e de amanhã", quando ainda era cardeal, reforçou o seu parecer sobre a religiosidade enraizada na cultura em um recente pronunciamento, na Alemanha.
"A cultura da Europa nasceu do encontro entre Jerusalém, Atenas e Roma, do encontro entre a fé no Deus de Israel, a razão filosófica dos Gregos e o pensamento jurídico de Roma. Este tríplice encontro forma a identidade íntima da Europa. Na consciência da responsabilidade do homem diante de Deus e no reconhecimento da dignidade inviolável do homem, de cada homem, este encontro fixou critérios do direito, cuja defesa é nossa tarefa neste momento histórico”, ressaltou Bento XVI durante discurso proferido no Parlamento alemão, em setembro de 2011.

E agora? Excluímos os símbolos religiosos?
Diante de tamanha fundamentação, é hora de ir adiante, aos dias atuais. Tirar os crucifixos das escolas e demais locais públicos diminuiriam a laicidade de um estado ou seria o caso de desenvolver-se uma maior “consciência cultural” capaz de discernir aquilo que está enraizado na história de um povo daquilo que não são traços característicos de tal cultura? O professor universitário Flaubert Paiva, jornalista com especialização em Jornalismo Cultural e doutorando em Humanidades e Artes pela Universidade Nacional de Rosário de Buenos Aires, Argentina, explica sobre este processo de fusão entre religião e Estado, que segundo ele, foi capaz de criar a identidade ocidental.
 
"Considero que a retirada de um crucifixo não vem contribuir em absolutamente nada, no que diz respeito a formação e ou intensificação da laicidade do Estado. A questão dos valores cristãos estão muito mais arraigados à nossa sociedade do que podemos pensar. Queiramos ou não, o nosso comportamento em sociedade – por mais transgressões que nós vejamos – é determinado pela conduta moral cristã. Acreditar que imagens sacras interferem na posição de um Estado Laico, ao meu ver, é a máxima demonstração de ignorância", afirmou o professor.
Considerações finais e... culturais
Quando pensamos em afrescos, igrejas, belíssimas esculturas e obras de arte, pensamos em Michelangelo, considerado um dos maiores autores da história da arte do Ocidente. A admiração por este grande artista não diminui se pensarmos que sua matéria prima foi justamente a fé de um povo. E então, censuramos Michelangelo?
 
 Fonte: www.cancaonova.com

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