quinta-feira, 1 de março de 2012

HOMILIA DE POSSE NA ARQUIDIOCESE DE NATAL COMO 6º ARCEBISPO NATAL



Exma. Sra. Governadora do Estado, Rosalba Ciarlini
Exma. Sra. Prefeita de Natal, Micarla de Souza
Exmo. Sr. Ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho
Exmo. Sr. Senador da República, José Agripino Maia,
E  demais autoridades  dos poderes  Executivo, Legislativo e Judiciário, Militares do 
Estado do Rio Grande do Norte e da Paraíba
Meus irmãos no Episcopado  - Arcebispos e Bispos do Regional NE II e de outras 
dioceses -    a quem saúdo na pessoa do irmão Dom Genival Saraiva de França, 
presidente deste Regional.
Caríssimos e veneráveis predecessores Dom Matias Patrício de Macedo e Dom Heitor 
de Araújo Sales, que com muita honra representam hoje todos os Arcebispos de Natal: 
Dom Alair Vilar Fernandes de Melo, que me batizou; Dom Eugênio de Araújo Sales, que 
me crismou; Dom Nivaldo Monte, que me ordenou sacerdote.
Revmos. Srs.  Sacerdotes do clero de Natal, Caicó e Mossoró e outras dioceses, e de
modo especial o Clero, os seminaristas e os fiéis de Campina Grande aqui presentes, e 
aos que nos acompanham pela Rádio Caturité  e pela TV  Século XXI. 
Caríssimos Seminaristas, Religiosos e  Religiosas, Leigos e Leigas Consagradas, 
Missionários e Missionárias, Catequistas, Agentes de Pastoral, lideranças comunitárias, 
fiéis todos da cidade e do campo, Povo Santo de Deus, ouvintes e telespectadores que 
estão acompanhando esta celebração em cadeia com a Rádio Rural de Natal e TV 
União. Homens e mulheres de Boa-Vontade, todos os que desejam reunir forças para 
trabalhar na construção de uma sociedade justa, pacífica e solidária, tendo em vista o 
bem comum e a dignidade da pessoa humana, desejo alegria, paz e esperança em 
Deus!  
“Sei em quem acreditei” (Scio Cui Credidi- 2Tm 1,12)
“Eis que venho, Senhor, com prazer, fazer a vossa vontade” .
Há 16 anos, no dia  27 de  janeiro de 1996, entrei nesta Igreja para celebrar a 
missa de  despedida de  Natal e envio para o início do meu ministério episcopal e missão pastoral na querida Diocese de Caicó. Hoje, dia 26 de fevereiro de 2012, mais 
uma vez, ingresso nesta Catedral de Nossa Senhora da Apresentação,  chamado e 
escolhido pela Santa Igreja para regressar a esta Arquidiocese, a fim de ser empossado 
como seu novo Arcebispo Metropolitano.
Tudo como Deus quer. Nada sem que ele tenha permitido. Pela graça de Deus 
sou o que sou” (1cor 15,10).
Sou realmente filho desta Igreja de Natal. Não apenas fui gerado  por ela, mas, 
também, fui formado e alimentado na vivência de minha vocação e do meu ministério, 
e na minha experiência pastoral como pároco, participando das alegrias e tristezas, fé 
e esperança  do seu povo. O que de fato poderia parecer a alguém de outra Igreja 
particular um fato extraordinário e raro, em Natal, faz já algum tempo, tornou-se uma 
realidade comum e ordinária, pois com exceção do seu primeiro Arcebispo, Dom 
Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas,  baiano de Inhabupe, do Clero de Salvador, 
pároco da venerável e secular Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, a quem 
tive a graça de  conhecer como seminarista, guardando até hoje o testemunho e o 
depoimento dos padres mais antigos  a respeito da sua austeridade, fidelidade, 
pobreza e, sobretudo, da sua paternidade,  todos os demais  Arcebispos foram 
escolhidos pela Santa Sé dentre os membros do clero natalense.
Essa tradição, confirmada agora, mais uma vez, pelo Santo Padre Bento XVI, a 
quem agradeço e renovo a fidelidade e obediência, é motivo de alegria não apenas 
para mim, mas também para muitos que manifestaram sua satisfação por meio de 
telefonemas, telegramas, e-mails e visitas pessoais.  Foram de muito conforto e 
encorajamento tantas palavras de contentamento e felicitações não só do clero e dos
irmãos Bispos, mas também do povo de Deus e dos representantes e dirigentes da 
sociedade. Uma delas resume bem o que todos desejam e o que suplico a Deus nesta 
Santa Missa: “Sendo filho desta Igreja particular, o amor que dedicas a sua missão será 
ainda maior e sem medida a sua entrega ao povo que lhe foi confiado”.
Recordo-me desta Igreja centenária e de sua história mais recente, desde minha 
entrada no Seminário, quando acompanhei muito de perto com admiração e 
entusiasmo aquilo que se configurava como o Movimento de  Natal, com todo seu 
pioneirismo e atenção a transformação da realidade em vista da promoção da 
dignidade humana e da justiça social; a criação da Campanha da Fraternidade,  das 
Escolas Radiofônicas,  das Comunidades Eclesiais de Base já prefiguradas nas
experiências de Nísia  Floresta e São Paulo do Potengi; o fortalecimento da ação e 
participação do laicato católico na vida da sociedade, as reformas do Concílio Vaticano 
II, a crise pós-conciliar, atingindo frontalmente a identidade do  clero e as vocações 
sacerdotais; as Conferências do Episcopado  Latino-americano e suas repercussões na
vida da Igreja de Natal: Medellin, Puebla, Santo Domingo, e, atualmente, renovados na 
esperança pelas conclusões e diretrizes pastorais do Documento de Aparecida, quando nos exortam ao compromisso com a necessidade da conversão pastoral e pessoal, 
sobretudo nos motivando para uma renovação das estruturas caducas da Igreja. O fato 
desta cerimônia está sendo realizada no primeiro Domingo da Quaresma deve ser 
interpretado como um sinal deste compromisso de conversão e renovação eclesial.
Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo, quero evidenciar os sentimentos que 
habitam o meu coração e as recordações que povoam a minha mente ao entrar, hoje,
nesta manhã de domingo, o primeiro da Quaresma, na Igreja Catedral de Natal.
Guardo vivas na memória as lembranças da construção desta Igreja Catedral, a 
cerimônia de sua Dedicação e a especial Bênção  Apostólica concedida pelo Santo 
Padre João Paulo II, por ocasião da sua visita a Natal para a celebração do XI Congresso 
Eucarístico Nacional, no ano de 1991. Faço aqui a justa menção do árduo e dedicado 
trabalho de Dom Antônio Soares Costa, Bispo Auxiliar de Natal, que ofereceu parte de 
sua vida e de suas energias no desejo de ver concluída esta obra santa. Quero recordar 
e reverenciar com sentimento mais profundo de gratidão e reconhecimento da 
providência divina o carinho das palavras do Venerável Beato João Paulo II, escritas na 
Bula de minha nomeação para Caicó: “Quanto a tua ordenação episcopal, dileto filho, 
nós mesmos, com alegria, a conferiremos a ti no próximo dia 06 de janeiro, durante a 
Missa Solene da Epifania do Senhor, na Patriarcal Basílica de São Pedro, no Vaticano”. 
Sinto-me,  portanto, agradecido a  Deus por esta manifestação da sua providência e 
pela certeza de contar com a intercessão do Beato João Paulo II no exercício do meu 
pastoreio.
Vivendo intensamente esta experiência de fé, disponibilidade, serviço e missão, 
reverencio e homenageio a  vida e a memória dos meus irmãos  Bispos, que, com a 
graça de Deus, irei suceder no pastoreio desta querida e venerável Igreja de Natal, que 
me gerou na fé, me formou para o sacerdócio e me ofereceu para a missão apostólica
pelo exercício e a graça do múnus episcopal.
Na sucessão apostólica não  há substitutos e sim sucessores, cada um há seu 
tempo e conforme a sua história pessoal e a sua formação humana e espiritual, para 
conduzir e guiar o rebanho que lhe foi confiado. Guardando reverente a exortação do 
santo Padre João Paulo II na Bula de nomeação para a Igreja de Caicó, em 29 de 
novembro de 1995, reavivo na mente a minha disposição e atenção para corresponder 
ao chamado do Senhor para apascentar os fiéis desta Arquidiocese com a palavra,  a
ação e, sobretudo, com a linguagem confiável e persuasiva do testemunho.
Confiando mais em Deus do que em mim mesmo, em minhas forças  e 
capacidades, coloco-me diante do Senhor para ouvir a sua voz, ver os seus sinais e 
refletir sobre os seus desígnios, considerando sempre a sua santa vontade e buscando 
conhecer  o que se apresenta à realização da minha missão em Natal. Foi assim que 
procedi em Campina Grande,  aquela querida e saudosa Igreja onde fui tão bem acolhido e com felicidade exerci o meu ministério, descobrindo e assimilando seus 
dons, carismas e virtudes, pelo que manifesto a minha perene gratidão. 
Ao diletíssimo Clero de Natal, a quem saúdo com toda estima, quero fazer o 
louvor e o reconhecimento de suas virtudes e dons, exaltar e identificar o seu espírito 
de fraternidade, unidade e solidariedade. Duas palavras quero indicar aos padres. 
Primeiro o apelo do apóstolo São Paulo quando diz: “Carregai os fardos uns dos outros, 
e assim cumprireis a Lei de Cristo” (Gl 6,2). Depois, o ensinamento de Santo Inácio de 
Antioquia que orienta: “A unidade do presbitério com o seu Bispo deve ser tal e 
tamanha que se assemelhe a uma cítara com cordas bem afinadas, cujo toque produz 
um perfeito uníssono”. Asseguro que estarei aberto e disponível para o diálogo franco,
sincero e corresponsável, pois temos todos um só objetivo, que é o de colaborar com a 
obra de  Deus deixando-nos usar por ele como instrumentos ao seu serviço. Diante 
disso, no exercício do ministério, considero falta gravíssima qualquer gesto ou atitude 
de autoritarismo e falta de acolhimento para com as pessoas, que, em qualquer 
circunstância, nos procurem como fiéis ovelhas do rebanho de Cristo, assim como 
todos aqueles que nos diversos serviços, pastorais e movimentos representem a Igreja 
Arquidiocesana diante da sociedade.
A consciência e incorporação sistemática e permanente da dimensão do serviço 
na nossa vida de ministros ordenados é imprescindível para a relação com o povo de
Deus e a sociedade do nosso tempo. Almejo e recomendo à intercessão da Senhora da 
Apresentação, nossa amada padroeira,  um clero unido, motivado, corresponsável e 
comprometido com a fraternidade presbiteral e atento  às prioridades pastorais da 
nossa Igreja Arquidiocesana.
Não posso imaginar que a riqueza, significado,  importância e espírito do Ano 
Sacerdotal não  tenham nos  inspirado para uma maneira nova do exercício do 
ministério sacerdotal diante de mudanças tão profundas e exigentes à renovação do 
ser e do fazer padre na sociedade atual. Não haveria talvez melhor e mais feliz fruto do 
Ano Sacerdotal do que o despertar e o crescimento  da vivência da espiritualidade, 
sendo os padres reconhecidos como homens de Deus, como presença e testemunho 
vivo do Senhor Jesus. Diante de um clero numeroso e jovem, precisamos respeitar as 
diferenças, mas resguardando sempre a unidade e a comunhão de discurso e ação, 
correspondendo àquilo que a Igreja deseja e que a sociedade espera encontrar em um 
sacerdote de Cristo, considerando também o seguimento das diretrizes, prioridades e 
emergências pastorais indicadas no atual Plano Arquidiocesano de Pastoral.
A esse respeito, o Papa Bento XVI afirma: “A unidade dos discípulos do Senhor é 
indicação indispensável para que a ação evangelizadora seja fecunda e credível”. Não 
compreendo um presbítero distante ou isolado do presbitério. Não somos padres para 
nós mesmos. Pertencemos a uma Igreja e a um presbitério, e o nosso ministério está 
em função do serviço que prestamos a Deus e ao seu povo. Ao clero desta Igreja de Natal quero dedicar o meu zelo e atenção paternal, sobretudo, aos mais idosos que 
dedicaram suas vidas com fidelidade e amor ao serviço da Igreja e do povo de Deus.
Interpretando e sentindo a realidade do tempo presente e suas repercussões na 
vida da  Igreja, valorizemos o diálogo e o respeito  às diferenças, o acolhimento e 
respeito  às novas comunidades e movimentos, às quais acolho com estima e 
esperança de que preservarão sempre o bem e a unidade da Igreja, na comunhão com 
seus pastores. Mesmo diante de uma sociedade de consumo e do bem-estar, diante 
das melhorias sociais e  econômicas conquistadas, não podemos deixar de apoiar e 
favorecer  as pastorais sociais, na busca de justiça e de dignidade para os mais 
excluídos e marginalizados, pois como dizia Santo Irineu: “A glória de Deus é o homem 
vivo”.
Ao povo de Deus, agradeço as orações pela Igreja e pelo novo Arcebispo, pelas 
manifestações de acolhimento e de esperança  no desejo de colaborar com o seu 
pastor, a fim de que o rebanho de Cristo possa se fortalecer. Lembro as palavras de 
Santo Agostinho ao se dirigir à assembleia dos fiéis de sua Diocese: “Para vós sou 
Bispo, convosco sou cristão. Este nome  é causa de alegria e consolação, aquele é 
motivo de tremor. Aquele é nome do cargo, este é nome da graça. Aquele é ocasião de 
perdição e este de salvação”.  Quero, pois, convocar e  incentivar todos os fiéis  no 
comprometimento e engajamento na missão da  Igreja na vida civil: na comunhão e 
participação nas comunidades paroquiais e nas ações da sociedade civil organizada, 
sendo presença de  Cristo pelo anúncio do  Reino e testemunho do  Evangelho. A  
Campanha da Fraternidade é a oportunidade que a Igreja oferece para a vivência desta 
compromisso, este ano voltada para a problemática tão séria da Saúde Pública.
O tempo forte e especial da Quaresma que estamos iniciando deve ser para 
todos nós uma oportunidade e ocasião de crescimento espiritual por meio da vivência 
da caridade e do perdão, da justiça e da paz, fazendo-nos afastar do mal e fazer o bem, 
vencendo toda tentação e buscando as virtudes.
Recomendo toda a Igreja de Natal aos cuidados maternos de Nossa Senhora da 
Apresentação e aos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, chama viva e luminosa da fé que foi 
semeada e cresceu esplendorosa nestas terras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário