sábado, 17 de setembro de 2011

"Bioética é colocar vida no centro", diz padre Leo Pessini

Padre Leo Pessini, conferencista na Jornada de Bioética da Diocese de Lorena
A Conferência de Abertura da 2ª Jornada de Bioética, promovida pela Associação de Médicos Católicos da Diocese de Lorena (SP) e o Grupo de Pesquisa em Ética do Centro Universitário Salesiano, aconteceu na noite desta sexta-feira, 16, às 21h. O evento segue até domingo, 18, com o tema “Família, Santuário da Vida” (para acompanhar ao vivo, clique aqui).

O doutor em Teologia Moral pela PUC-SP e provincial dos Camilianos no Brasil, padre Leocir Pessini, abordou o tema "Bioética: passado, presente e perspectivas futuras".

"Falar de bioética é colocar a questão da vida do ser humano no centro, de modo todo particular, mas sem esquecer também o sentido cósmico-ecológico. Hoje, temos um conhecimento que não tínhamos a até poucos anos atrás. O que nos cabe é fazer certas escolhas. O problema é quais valores vão nortear essas escolhas que os seres humanos vão fazer, de tal forma que não neguem o futuro da vida do planeta, que não transformem o ser humano numa mera cobaia de pesquisa, que não neguem a questão da solidariedade humana", afirmou.

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Segundo o teólogo, a bioética é um brado pela dignidade humana, desde o nascer até o morrer. "A administração sábia da nossa casa comum e a convivência fraterna entre os que nela habitam são fundamentais", pondera. Ele também foi enfático ao ressaltar que o século XXI, ou será o século da ética ou, então, "nós não existiremos".

Pessini retomou o conceito formulado pelo assim considerado pai do termo bioética, Van Rensselaer Potter, e indicado no livro Bioethics: Bridge to the Future: "esta nova ciência combina o trabalho dos humanistas e cientistas, cujos objetivos são a sabedoria e o conhecimento. A sabedoria é definida como sendo o conhecimento de como usar o conhecimento para o bem social. A busca da sabedoria tem uma nova orientação, porque a sobrevivência do ser humano está em jogo. Os valores humanos devem ser testados em relação ao futuro e não podem ser dissociados dos fatores biológicos. Ações que diminuem as chances de sobrevivência humana são imorais e devem ser julgadas em termos do conhecimento disponível e monitoramento contínuo de 'parâmetros de sobrevivência' que devem ser escolhidos pelos cientistas e humanistas".

Da mesma forma, recordou que o próprio Papa Bento XVI aborda o tema em sua última Encíclica, Caritas in Veritate: "Hoje, um campo primário e crucial da luta cultural entre o absolutismo da técnica e a responsabilidade moral do homem é o da bioética, onde se joga radicalmente a própria possibilidade de um desenvolvimento humano integral. Trata-se de um âmbito delicadíssimo e decisivo, onde irrompe, com dramática intensidade, a questão fundamental de saber se o homem se produziu por si mesmo ou depende de Deus. As descobertas científicas neste campo e as possibilidades de intervenção técnica parecem tão avançadas que impõem a escolha entre estas duas concepções: a da razão aberta à transcendência ou a da razão fechada na imanência. Está-se perante uma opção decisiva", escreve o Pontífice.


Indicações

Padre Pessini apontou os três princípios básicos da bioética, a fim de que o ser humano não seja reduzido a mera cobaia:
1º - respeito pelas pessoas;
2º - beneficência: benefícios devem ser sempre maiores que riscos e potenciais danos;
3º - justiça: na seleção de sujeitos escolhidos para as pesquisas.

O doutor indicou também que é preciso implementar a bioética dos quatro "p":
- Promoção: da vida e da saúde;
- Prevenção: de doenças e enfermidades;
- Prudência: é a sabedoria prática, quando os riscos de possibilidades de dano apresentam-se muito maiores que os potenciais benefícios;
- Precaução: deve-se ter frente ao desenvolvimento da tecnociência em determinada área. Se não se sabe no que vai resultar certa tecnologia, deve-se fazer uma moratória, parar, estudar mais o tema, para se ter mais certeza e, então sim, se constatado que não se trata de colocar em risco o que é sagrado, a vida dos seres vivos, e não se danifique a nossa casa comum, permite-se.
Fonte: www.cancaonova.com

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