CNBB
“A Igreja precisa estar muito presente com o povo da região amazônica, ajudando a organizar aquela sociedade civil. Temos que dar voz aos habitantes de lá, para que se pronunciem sobre as decisões que interferem diretamente na vida deles”, diz o arcebispo emérito de São Paulo (SP) e presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Cláudio Hummes.
Como parte das atividades da Comissão, dom Cláudio realiza anualmente visitas pastorais à região amazônica. No mês de julho, esteve por duas semanas nas comunidades locais. Passou pelas dioceses de Itaituba, Santarém e Óbidos.
Durante os dias de visita, dom Cláudio celebrou missas, ouviu as necessidades da população, participou de encontros com bispos e padres, colheu informações sobre os projetos de missão em andamento. Para o cardeal, as pessoas que vivem na Amazônia sentem a necessidade de uma maior consciência e organização, “com a finalidade de apresentarem propostas de desenvolvimento sustentável para a região e não somente a construção de hidrelétricas”.
Desafios
Dom Cláudio recorda as palavras do papa aos bispos brasileiros durante a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, em 2013. Na ocasião, o pontífice afirmou que a Amazônia “é um teste decisivo e um banco de prova” para a Igreja no Brasil e a sociedade. “A Igreja não pode estar ausente. Mas deve estar ali de forma profética e denunciar iniciativas que possam destruir a Amazônia, pulmão do planeta e a mais rica biodiversidade”, afirma o cardeal.
Na visão do cardeal, um dos grandes desafios da missão na Igreja na Amazônia refere-se à falta de missionários para as atividades, como ministros ordenados (padres, diáconos e bispos), religiosos e religiosas, pessoas dispostas a colaborar com a evangelização na região.
“O papa nos encoraja a buscar novos caminhos para o desenvolvimento da Amazônia. Ele pede para que façamos propostas corajosas, inclusive motivando as Conferências Episcopais, como a CNBB”.
O cardeal ressalta, ainda, que o papa Francisco tem falado de uma Igreja com rosto Amazônico. “Isso não quer dizer simplesmente implantar um estilo de trabalho, mas deve ser uma Igreja que, de fato, se aproxima do povo, com a realidade humana e ambiental da Amazônia. Portanto, é uma Igreja que se envolve com a história do povo, sofrimentos, lutas e sonhos”, explica.
Motivações
A formação de um clero autóctone é uma das motivações do papa Francisco para a Igreja na Amazônia. “O papa diz ser necessário começarmos a nos empenhar na busca de clero autóctone, que inclui também clero indígena. Hoje, após muitos anos de missão, sabemos que os povos indígenas têm muitas dificuldades de serem sujeitos de sua história”, diz dom o cardeal.
Ao recordar a missão na Amazônia, cardeal Cláudio Hummes ressalta que todo o processo visa a inculturação da fé e o respeito a toda questão ecológica como tem pedido o papa em sua Encíclica “Laudato Si”. No texto, Francisco denuncia propostas de internacionalização que servem aos interesses econômicos das corporações internacionais. Diante dessas questões urgentes, o papa reconhece a importância da missão na Amazônia, no item 38 da Encíclica: “É louvável a tarefa de organismos internacionais e organizações da sociedade civil que sensibilizam as populações e colaboram de forma crítica, inclusive utilizando legítimos mecanismos de pressão, para que cada governo cumpra o dever próprio e não-delegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais do seu país, sem se vender a espúrios interesses locais ou internacionais”.
Ao concluir, dom Cláudio lembra o convite do papa a Igreja: “A grande mensagem do papa Francisco para todos nós é que a Igreja seja missionária, toda ela, não apenas para alguns fazerem missão. Ele nos interpela que devemos ser uma Igreja misericordiosa que vai às periferias, aos mais necessitados e feridos; e uma Igreja pobre e para os pobres”.
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